Estava fazendo uma limpa na minha caixa de e-mails (há uns 3 anos atrás) quando encontrei um que me chamou a atenção, tendo como anexo um artigo com o seguinte título ‘Me, Myself and I’, da Revista Vip de um tempão atrás.
Objetivando o conteúdo: certo cara escreveu dizendo que já sofreu por amor e hoje descobriu o quando é mais feliz sendo sozinho. Insinuava que as pessoas não sabem a intensa felicidade que é a solidão.
Trecho: ‘Só os escassos de imaginação e os pobres de espírito perdem tempo à procura de uma felicidade estável, permanente. Eu procuro sofrer menos [...]’.
Na primeira vez que li o texto por cima estava com raiva pelo contexto que vivenciava na época. Há três anos atrás li novamente e consegui ver como eu e grande parte dos seres humanos éramos todos cômodos e a mídia fria. Dessa vez eu não li, deletei, tenho apenas minhas impressões, mas com certeza é o melhor momento para eu comentá-lo. (O tempo faz isso).
Eu sei que sentimentos é a fonte da vida. Que relacionamentos realmente pesam. Já não é fácil lidar com mãe, irmão, irmã, pai, colega de trabalho, vizinho. Quem dirá um homem e uma mulher no ápice ou derradeiro de sua paixão?!
Ser nômade por entre corpos, beijos e momentos. Flutuar com a solidão. Abraçar apenas o travesseiro. Dividir 4 paredes de um quarto com um pijama de algodão. Utilizar só uma taça de vinho. Apoiar a cabeça no sofá.
Poético? Fazer isso por uma vida inteira me soa patético.
Isolar-se de uma das melhores coisas que podemos sentir é patético para mim.
Se não deu certo, não era para ser. Frase clichê com fundo lógico. Todo mundo se apaixona um dia. Sofre por isso. Chora, mesmo que escondido. Fica com raiva do mundo. E passa. O tempo faz passar tudo aquilo que sempre achamos tão inesquecível. Faz sim. Se não, é amor. Ai é outra história. (não estou falando de obsessão, aquela que não nos esforçamos para passar).
A questão é que seja na vida amorosa, na familiar, na profissional, os obstáculos surgem sim. E não somente para os desafortunados. Ou pensamos que o mocinho e a mocinha bonitinhos da televisão, a rainha tal, o esportista celebridade etc. e tal, já não passaram por situações assim? Todo mundo sofre de amor, todo mundo tem dor de barriga, todo mundo acorda descabelado e com bafo, assim como todo mundo fica irritado ou passa por situações desagradáveis.
Sei que o dinheiro pode ajudar, sim, concordo. Mas não irá adiantar muito se for uma pessoa sem motivação interior que administrá-lo. Sem paixão. Tudo pode parecer utópico ou não, mas a verdade é que as coisas não precisam ser perfeitas.
Ser ‘vazio’ por medo de confrontar a vida? Isso não me parece nada interessante.
Precisamos nos apaixonar. Somos os únicos que temos esse poder no meio de tantos seres vivos.
Perdoe-me o cara que escreveu a frase ai de cima, mas tenho certeza de que não existe um ser humano que desejaria ser sozinho de verdade. Tão absurdo utilizar palavras como ‘escassos de imaginação e pobres de espírito’. Tão sem nexo. Procuram felicidade estável? Felicidade não é uma linha constante. Mas como ele vai saber? Vive na escassez dela se a evita.
Com certeza não é sofrendo menos que conseguimos algum mérito. É vivendo mais.
Ninguém nasceu para ser perfeito, ‘superman’ ou ‘superwoman’, nascemos para viver, e viver da melhor forma possível! Viver e tirar o melhor de tudo, do amor, do trabalho, da família, da rotina. E ás vezes nada disso é tão fácil. Se fosse, não faria o menor sentido.
Ficar lamentando e remoendo coisas ruins sempre e sempre, numa mesma ladainha, parecendo novela mexicana, uma vitrola riscada, cansa. Olhar negativo, palavras negativas, atrai negativismo... Não culpe ninguém por isso.
Como um sentimento que inspirou textos de escritores deliciosos de degustar, tantas músicas transcendentais, arte e filmes que aumentam os batimentos cardíacos, poderia não prestar?
Já dizia o queridíssimo Carlos Drummond de Andrade: ‘O amor é privilégio de maduros...
... estendidos na mais estreita cama, que se torna a mais larga e mais relvosa, roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto, o prêmio subterrâneo e coruscante, leitura de relâmpago cifrado, que, decifrado, nada mais existe valendo a pena e o preço terrestre, salvo o minuto de ouro no relógio minúsculo, vibrando no crepúsculo. Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde.